quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Censura?

Não sei porque, hoje topei com vários assuntos relacionados ao tema "censura" ao longo do dia.

O primeiro e mais comentado é a vinda de Yoane Sánchez, jornalista e blogueira cubana ao Brasil. Ontem, ela não pôde assistir ao documentário Cuba-Honduras, no qual aparece, porque manifestantes (contra ela ou contra a presença dela) não permitiram. Saiu-se bem, dizendo que só na democracia se pode protestar. É verdade. Mas a pergunta que me fica é: por que alguém protestaria contra a jornalista? Ou alguém realmente acha que Cuba é um país livre? Se quem estava na Bahia tentasse se manifestar em Cuba, duvido que conseguisse. Claro que existem perguntas a serem feitas a Yoane: quem pagou a vinda dela é apenas uma dessas perguntas. Mas é óbvio que não é só sobre isso que os manifestantes queriam falar. Acho que está implícito que existe uma "simpatia" pelo regime castrista, uma tentativa de dizer que o Brasil, se não é amigo, ao menos simpatiza com o regime da Ilha. Lógico que a questão é bem mais complexa que isso, estou tratando apenas da superfície aqui. Por outro lado é meio absurdo ver nas redes sociais gente dizendo "abaixo o PT que cala Yoane". Oi? Como é que alguém fala contra a censura pedindo a censura do adversário político/filosófico/ideológico? Contrassenso, no mínimo.

Li também uma notícia sobre um processo contra um site que satirizava a Folha. Tudo bem, os leitores podem confundir o blog da Falha com o site da Folha (ainda que isso me lembre a polêmica história de leitores com o perfil do Homer) e a Folha tem que manter sua postura de jornalismo sério etc. Mas é um blog, num território livre (enquanto o marco civil regulatório não for aprovado no Brasil, isso tudo é um terreno muito arenoso). Senão, o que dizer de iniciativas como Sensacionalista e Piauí Herald e até do José Simão, que trabalha na própria Folha? Quem é que define quem pode e quem não pode tirar sarro?

Outra notícia de hoje é a campanha Tweet Censurado, da Anistia Internacional, que alerta para esta questão.

Tudo isso me fez pensar um pouco como é que a gente lida com informação e censura, isso que é o cerne daquilo que escolhi fazer pra viver. Não acredito que haja uma resposta simples, direta e única. A questão é complexa, muito além do "pode tudo" ou do "não pode mexer com quem tem poder". Vai além do "direita vs esquerda" (ah, Norberto Bobbio!) e do "a internet é terra de ninguém". Eu nem tenho uma opinião imutável sobre cada um desses assuntos que expus aqui. Mas acredito que tudo isso junto possa ser um bom material pra refletir sobre como é que definem os limites do que pode ou não, do que se deve ou não hoje em dia. Porque tudo é muito mais plural, diversificado e complexo do que antes de o Muro cair. Existe o certo, o errado e todo o resto. E ninguém ainda sabe direito quais são os limites disso - o que é o esvaziamento puro do "politicamente correto", o que é "direito de livre expressão". Mas, se de fato "é proibido proibir", todo mundo tem que saber quais são as regras do jogo, fortalecer seus argumentos, jogar limpo e não se condoer por pouco ou nada.