Pela janela do segundo andar, olho o chão do pátio, úmido.
Um pouco sem crer no que vejo, coloco os braços para fora e sinto as gotas
caírem sobre a pele. Enfim, chove. E chove gentilmente. Uma chuvinha fina, tímida, mas teimosa;
silenciosa e discreta, como quem entra num quarto pé ante pé, em segredo.
Depois de mais de dois meses de seca, a comoção foi tão
grande que as redes sociais, onde todo mundo precisa se mostrar lindo e feliz,
foram tomadas por danças da chuva e pedidos aos deuses para que a água caísse
do céu. “O que você está pensando?”; “O que está acontecendo?”. A resposta era:
chuva.
E é estranho ver como as pessoas estão celebrando a chuva,
como uma tribo primitiva que vê na água um milagre. Fazia tanto tempo que, por
um instante, foi como se tivéssemos visto aquilo pela primeira vez. E tudo se
agitou: corpos, mentes e sensações. E a chuva fez brotar sorrisos nos rostos,
lágrimas nos olhos e instinto nas almas.