quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Estiagem


Pela janela do segundo andar, olho o chão do pátio, úmido. Um pouco sem crer no que vejo, coloco os braços para fora e sinto as gotas caírem sobre a pele. Enfim, chove. E chove gentilmente. Uma chuvinha fina, tímida, mas teimosa; silenciosa e discreta, como quem entra num quarto pé ante pé, em segredo.

Depois de mais de dois meses de seca, a comoção foi tão grande que as redes sociais, onde todo mundo precisa se mostrar lindo e feliz, foram tomadas por danças da chuva e pedidos aos deuses para que a água caísse do céu. “O que você está pensando?”; “O que está acontecendo?”. A resposta era: chuva.

E é estranho ver como as pessoas estão celebrando a chuva, como uma tribo primitiva que vê na água um milagre. Fazia tanto tempo que, por um instante, foi como se tivéssemos visto aquilo pela primeira vez. E tudo se agitou: corpos, mentes e sensações. E a chuva fez brotar sorrisos nos rostos, lágrimas nos olhos e instinto nas almas. 

sábado, 1 de setembro de 2012

Nostalgia

Existem momentos na vida em que a gente sente saudade de determinadas situações e pessoas que não é mais possível resgatar ou presentificar. Uma das minhas maiores nostalgias é de um tempo de amigos diariamente por perto, conversas profundas, olhares confidentes. Tive a sorte de fazer amigos de verdade durante a faculdade. Pessoas especiais e importantes, que continuam na minha vida, mas obviamente sem a frequência de anos atrás.

Cada um segue seu rumo, cada um precisa ir cuidar da sua vida. Vêm os maridos, as mulheres, os filhos, as viagens de trabalho, o cotidiano, a "discussão sobre a carestia do leite", como me disse uma vez um querido amigo. É bom, normal, saudável.

Só que vez ou outra  dá saudade. Porque, ao contrário do que se diz popularmente, a gente era feliz e sabia. Não que agora não sejamos. Mas de alguma maneira, para sempre, a gente vai se reconhecer e estar ligado por aquela experiência. Por que há algo de mágico naquele momento, que jamais será retomado, e que vez ou outra dá vontade de reviver.