quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Agüentando até 2016

Acabo de ler no jornal que o governo vai adiar a implantação completa e obrigatória acordo ortográfico para 2016. Isso, para mim, significa ter mais alguns anos de uma idéia brilhante, tranqüilidades trêmulas, lingüiças mais saborosas, pessoas mais bem-vindas, estréias mais novidadeiras e extrovertidas.

Gosto muito do trema, acho que ele agita a tranqüilidade e nos dá a dimensão de que nada é tão plácido assim.  E gosto ainda mais do acento em idéia. O editorzinho de texto do blog já me diz, com minhoquinhas vermelhas, que idéia com acento não é uma boa ideia. Mas eu insisto nela. Não por saudosismo da velha regra, mas simplesmente porque acho-a mais iluminada e criativa do que uma ideia sem acento.

E agora, podemos continuar acertando, se quisermos: agüentar até 2016.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

"Para onde nos atrai o azul?"


Que me desculpem os 2 ou 3 leitores deste blog pela repetição de assunto, mas eu ainda tenho algumas coisas a dizer sobre o meu salto de paraquedas.

Sempre fiquei muito impressionada com relatos de pessoas que passaram por momentos difíceis na vida, superando doenças graves, por exemplo. É recorrente essas pessoas dizerem como essas experiências mudaram suas vidas, fizeram-nas repensar suas próprias existências, ajudaram a compreender o “sentido da vida”.

Há um ditado que diz que se a gente não aprende pelo amor, aprende pela dor. Eu tive a sorte de aprender pelo amor. Não quero dizer que saltar de paraquedas seja o mesmo que passar por uma experiência grave. Só quem passa por momentos extremos sabe o que isso significa. Mas o fato é que eu realmente tive essa sensação, da dimensão imensa do mundo e da pequenez, da insignificância da gente frente à natureza.  

De lá de cima, o mundo é tão imenso, tão lindo, tão maravilhoso, que a existência se torna pequena, que é possível sentir que você é apenas parte daquilo tudo. E que se há algo transitório, somos nós, não o mundo. Fica fácil não se ater a detalhes, a coisas pequenas, supérfluas e superficiais. Lá em cima, somos tão pequenos e frágeis. Estamos à mercê do vento, da gravidade. E a natureza quase nos protege, quase nos ameaça. Ela é imensa, mas não imponente: é simples.

É absurdo nem sentir a queda. Não se sentir caindo é uma prova de que somos tão pequenos. É poder ficar parado no ar, no silêncio. Como se não houvesse a passagem do tempo nem a mudança do espaço. Como se não houvesse som. É uma paz, uma beleza impactante e profunda. E a gente se sente pequeno. Mas é preciso coragem e ousadia para ir lá experimentar. É preciso grandeza de espírito para provar a irrelevância do corpo, para se imiscuir com o mundo, para se jogar no nada sem rede de proteção, esperando que o paraquedas abra para poder apreciar a vista – e a vida. 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Renata caiu do céu!

Nem me lembro quando a vontade surgiu. Eu devia ter uns 19 anos. Talvez tenha sido por causa de um projeto, ainda no primeiro ano de faculdade, que me fez descobrir isso. Também não sei dizer por que demorei tanto pra realizar esse desejo. Mas a verdade é que, quando a gente cultiva por muito tempo um desejo, quando ele finalmente se realiza, parece ter um gosto ainda mais especial.

Até que uma noite dessas, jantando num mexicano com amigos fraternos muito queridos, veio a ideia, despretensiosa : "vai ter um feriado em novembro, vamos?". "Vamos!", respondi, sem pestanejar. E ficou assim. Sobreveio um tempo de trabalho intenso, de cansaço intenso. E entre emails enviados para um endereço que eu não uso e correria para ir ao banco depositar o valor da reserva, acabou que deu tudo certo.  E a gente pegou a estrada, num fim de tarde de sexta feira de céu rosado.

No dia seguinte, cedo, tomamos café da manhã e partimos para a aventura. O céu estava lindo, límpido. Ventava. Cadastro feito, chegava a hora. A ansiedade me acompanhava já há uma semana e o medo já tinha me feito pensar em desistir. Mas eu já estava lá - e não desistiria. O astral estava incrível: todo mundo de bom humor, curtindo muito estar ali, sorriso no rosto. E um frio gelado no estômago. "No dia em que a gente deixar de sentir medo, a gente para de saltar, né, Babu?", pergunta Renan com a câmera em punho.

"O trator é a pior parte", avisaram. Com ele, fomos até a pista de pouso. Dentro do avião, todos sentados no chão, entre as pernas uns dos outros. O primeiro a sair era profissional, havia parado por um problema no fêmur, estava voltando naquele exato dia. E chegou a minha vez. A porta se abriu. Cabeça para cima, aqueles segundos pareceram horas. Até que Renan disse "Hey, ho". E nós fomos. 45 segundos a 10m/s2. Queda livre. Não há tempo de pensar em nada, ou em quase nada : "Onde estão minhas pernas? E meus braços?" Eles voavam, desgovernados. O vento no rosto, forte, seco, frio. Quase caótico. Mas antes mesmo de terminar, eu já estava entendendo tudo e com a sensação de querer mais do que só aqueles segundinhos.

Logo, o paraquedas abriu. O tranco me fez subir um pouco, mas logo o mundo parou. O tempo parou, o espaço parou, o silêncio se instalou.  E eu já não caia. Eu apenas olhava, maravilhada, o mundo. "Étonnant". A Terra é redonda, dá pra ver no horizonte..."Entende agora porque os passarinhos cantam?", perguntou o Renan. Eu entendi.

Depois de uma curva para a direita, uma rápida aulinha de Geografia: ali é Porto Feliz, mais adiante é Iperó. E a sensação de estar ali, parada no ar, ainda que racionalmente eu soubesse estar caindo, é uma das coisas mais incríveis e indescritíveis que já me aconteceu. "Daqui do céu dá pra ver tudo": não só com os olhos, mas para além deles. Não é uma revelação, é apenas uma sensação de ser tão pequena, e de tudo ser tão lindo e imenso, que prescinde de palavras.

E mesmo que eu sentisse que estava imóvel, eu não estava. Logo, os sete ou oito minutos acabaram. E eu estava de novo em terra firme, com o corpo todo relaxado, com a mente completamente despreocupada e limpa, tendo aprendido que estar no ar é algo que eu quero fazer ainda muitas e muitas vezes.


sábado, 27 de outubro de 2012

Uma questão de tradução

Uma das palavras mais lindas e perturbadoras do francês, para mim, é étonner. A expressão "Je suis étonnée" tem algo de inapreensível, de fugidio, de mágico. Tem um significado para além do que o dicionário consegue dizer: ficar estupefato, perplexo, maravilhado.

Lembro-me perfeitamente de quando descobri o que isso significava e do quanto isso me perturbou, justamente pelo caráter inapreensível dessa significação. Acho que é algo que não pode ser traduzido, como em português é o caso de "luar" ou "saudade". Na aula de francês, o professor pediu que eu desse um exemplo, que foi "En rêvant, je m'étonne" (Ao sonhar, eu me maravilho). E fiquei por muito tempo pensando o quanto essa tradução não era suficiente para traduzir de fato a alma dessa palavra, que talvez seja, para a mim, a mais linda dessa língua que é, em si, linda.

"Étonner" me assombra, me instiga. E eu persigo essa tentativa de captá-la inteira, profundamente. E sei que isso é impossível, porque esse sentimento é da ordem do inominável, do indizível, porque não há palavras que preencham esse significado. Aqui, acho, o significante fala mais.

Entretanto, tenho uma sensação: cada vez que "je m'étonne", eu tenho uma epifania.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

À luz de Clarice

Era fim de tarde de uma sexta feira qualquer. Eu estava mandando o último email da semana quando ouvi um estrondo na rua, seguido de um rápido clarão. Depois, tudo se apagou: meu computador, a lâmpada do escritório, o som do rádio. Um transformador queimara, a luz acabara.

Ainda estava escurecendo e no lusco-fusco eu ainda distinguia formas, com a ajuda das janelas abertas e da lua cheia que se insinuava. Mas que fazer numa noite de sexta feira às escuras? Sem rádio de pilha, temendo descarregar a bateria do celular, pus-me a ler. Era isso que fazia, criança, quando a luz acabava em casa.

Procurei uma vela, acendi-a com um fósforo. Coloque-a num pires, sobre a mesa de jantar. E saí em busca de um livro. "A Descoberta do Mundo",  livro muitas vezes já lido e relido, mas que nunca se esgota: muito apropriado para redescobrir a escuridão e uma situação pela qual eu não passava há anos.

Abri numa página ao acaso: Banhos de mar. Sob a luz quente e hesitante da vela, comecei a ler. "Atravessar a cidade escura me dava algo que jamais tive de novo. No bonde mesmo o tempo começava  a clarear e uma luz trêmula de sol escondido nos banhava e banhava o mundo (...). E quando eu me lembrava de que no dia seguinte o mar se repetiria em mim, eu ficava séria de tanta ventura e aventura. (...) A quem devo pedir que na minha vida se repita a felicidade? Como sentir com a frescura da inocência o sol vermelho se levantar?"

E, então, Clarice iluminou minha escuridão.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Alguma coisa está fora da ordem ou eu é que sou alienígena?


Quem me conhece sabe a fobia, o pavor, que tenho de cães, não importa o tamanho que sejam: pequenos, médios, enormes; bravos ou mansos. Mas não é porque os temo que não gosto deles. Costumo dizer que nunca tive tempo pra gostar ou não, pra estabelecer qualquer empatia com a espécie, simplesmente porque não consigo conviver com eles. A isso se chama cinofobia: não é frescura, não é frieza, não é ser desalmado, nem não ter coração.

Acontece que pra mim não dá pra conviver com eles. Não consigo estar no mesmo ambiente de um cão sem coleira, fico completamente paralisada de medo.  E acontece também que, cada vez mais, algumas pessoas acham que bichos são gente. Algumas preferem bicho a gente, outras dizem isso com orgulho(!).

Nada contra bichos. Aliás, tudo a favor disso: adoro gatos, passarinhos, corujas, peixinhos, serpentes, calopsitas e todos os outros que possam ser de estimação. Mas não dá pra acreditar que tem gente que os trate como gente.

Outro dia, vi duas mulheres – provavelmente mãe e filha – dentro de uma livraria com seus respectivos cãezinhos no colo. Porque levar um cão numa livraria que fica dentro de um shopping? Juro que me deu vontade de ir até elas e perguntar com que idade eles tinham aprendido a ler, se preferiam Drummond a Bukowski. Mas guardei meus pensamentos e me certifiquei de estar a uma distância segura caso elas soltassem os bichinhos no chão.

Tem gente que chama os bichinhos de “filhos” e dorme com eles – o que parece que é cada vez mais normal e aceitável socialmente –, outros que fazem festa de aniversário e “noivado” (quando eles vão cruzar), dão chupeta, oferecem doces criados especialmente para eles: chocolate, panetone, biscoito. Eu não entendo isso. Se um bicho é um bicho, deveria ser tratado como tal. Bem-tratado como tal, aliás. Porque imagino que esses “doces para bicho” devem fazer mal ao organismo de animais que, desde sempre, se alimentavam de outras coisas.

Sei que talvez eu arrume muita encrenca expondo esta minha opinião, mas o que eu acho é que “alguma coisa está fora da ordem”. Pessoas levam seus animais de estimação a passear no shopping, a festas de aniversários de humanos, a livrarias e até à casa de outras pessoas para “visitar”. Isso sem falar nas pessoas que deixam seus cães saírem para passear sozinhos, sem coleira; ou aqueles que tiram a coleira durante o passeio porque o animal precisa de “liberdade” para fazer suas necessidades fisiológicas. Para além de ser proibido – há uma Lei Municipal sobre isso – esse comportamento põe em risco o próprio animal (que pode vir a ser atacado por outro ou mesmo atropelado) e os passantes. Por mais que um bichinho seja manso, ninguém garante que ele não possa ter uma reação inesperada, não por agressividade, necessariamente, mas até por medo (e por medo de quem expressa medo por eles).

Eu acho que as pessoas que gostam de bichos devem ter animais de estimação, sim. Mas também acho que o espaço público, onde se constrói a sociedade – que é humana – deve ser respeitado. Passeie com seu animalzinho na coleira, não o deixe solto na rua, onde é proibido. Não o leve a lugares públicos: casa de amigos e parentes, festas, shoppings, livrarias e restaurantes são lugares para sociabilizar apenas uma espécie, o bicho homem.

Cuide da alimentação dele: dê ração e outros alimentos apropriados; vacine, dê carinho e afeto. Mas trate seu animal de estimação como tal. Porque as outras pessoas não têm a obrigação de ficarem expostas ao seu animal: seja ele um cão, um gato ou uma serpente.

Tenho a impressão de que as pessoas deveriam pensar em preferir gente a bichos. Em vez de humanizar seus animais de estimação, deveriam se importar mais com seus semelhantes. E não deveriam substituir o contato com humanos pelo contato com animais. Afinal, se não pudermos confiar na nossa própria espécie, que será de nós? Bicho é bicho; gente é gente. Ou eu é que sou alienígena? 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

#prontofalei (oi, oi, oi)


Eu preciso confessar: estou viciada em Avenida Brasil. Sim, estudei Machado de Assis, sim, adoro Clarice Lispector, Pessoa, Poe e Borges, assisto Tarantino, Bergman, Kubrick e outras coisas assim. Mas eu também adoro televisão. Especialmente novela. Tanto que um dos meus amigos mais queridos eu conheci por ter começado a conversar com ele sobre uma obscura novela dos 90: Araponga. Meu TCC foi sobre uma novela – Roque Santeiro –, algumas lembranças de fatos eu relaciono com novela: “Nossa, isso aconteceu na época de Bambolê!”.

Não sei porque, mas tenho lembranças de novelas desde que sou muito pequena: Pão, pão, beijo, beijo; Livre para voar; Elas por elas, Um sonho a mais, Transas e caretas, Vereda tropical, Paraíso, Sinhá Moça; Champagne. Lógico que não lembro detalhes, mas essas coisas ocupam certo espaço na minha memória.

Muito cedo também, eu parei de seguir novela. Vamp foi a primeira que eu desisti de ver – porque aquela versão de “Sympathy for the devil” não me convenceu – e aí só voltei a acompanhar algumas tramas televisivas nos anos 2000. Mas são só algumas, não são todas. Até porque, quando eu vicio numa novela, eu começo a assistir todos os capítulos, compulsivamente. E isso era muito difícil antes de existir internet.

E é isso que está acontecendo comigo em Avenida Brasil. Não comecei a ver desde o primeiro capítulo, mas no segundo mês, eu já tinha viciado. Porque o ritmo é frenético (diminuiu de uns tempos para cá, mas antes, era!), porque a vilã é muito má (Adriana Esteves me surpreendeu), porque a mocinha não é tão boazinha assim e porque tem muita comédia com referências interessantes (Betty Faria arrasando como Pilar; o Nilo de José de Abreu cantando “Nem vem que não tem”; o Adauto de Juliano Cazarré dizendo que o tiramissú que se come na mansão é feito com queijo “Al Capone”).

Na verdade, eu nem vejo “Avenida Brasil”. Eu vejo a “Carminha”. Assim como eu parava para assistir a “Flora”, de “A Favorita”. Carminha é a Flora 2.0, apesar de não ser tão irônica e cínica (Carminha me lembra um pouco um desenho animado).  Além do quê, tem uma coisa divertida nessa novela: a Nina indicando livros para Tufão, como se o alertasse sobre a trama. Já rolou de tudo: “O Alienista”, “Dom Casmurro”, “Madame Bovary”, “A Metamorfose”, “Memórias Póstumas” e até um improvável “A interpretação dos sonhos”. Tudo pro Tufão entender que está sendo passado pra trás. Nada adiantou, por enquanto – o capitulo de ontem começa a me desmentir. Mas pode ser que esteja certa a “profecia” de José Simão: “Tufão só vai descobrir que é corno no Vale a pena ver de novo”.

Enquanto isso, eu não desgrudo da TV. #prontofalei.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Estiagem


Pela janela do segundo andar, olho o chão do pátio, úmido. Um pouco sem crer no que vejo, coloco os braços para fora e sinto as gotas caírem sobre a pele. Enfim, chove. E chove gentilmente. Uma chuvinha fina, tímida, mas teimosa; silenciosa e discreta, como quem entra num quarto pé ante pé, em segredo.

Depois de mais de dois meses de seca, a comoção foi tão grande que as redes sociais, onde todo mundo precisa se mostrar lindo e feliz, foram tomadas por danças da chuva e pedidos aos deuses para que a água caísse do céu. “O que você está pensando?”; “O que está acontecendo?”. A resposta era: chuva.

E é estranho ver como as pessoas estão celebrando a chuva, como uma tribo primitiva que vê na água um milagre. Fazia tanto tempo que, por um instante, foi como se tivéssemos visto aquilo pela primeira vez. E tudo se agitou: corpos, mentes e sensações. E a chuva fez brotar sorrisos nos rostos, lágrimas nos olhos e instinto nas almas. 

sábado, 1 de setembro de 2012

Nostalgia

Existem momentos na vida em que a gente sente saudade de determinadas situações e pessoas que não é mais possível resgatar ou presentificar. Uma das minhas maiores nostalgias é de um tempo de amigos diariamente por perto, conversas profundas, olhares confidentes. Tive a sorte de fazer amigos de verdade durante a faculdade. Pessoas especiais e importantes, que continuam na minha vida, mas obviamente sem a frequência de anos atrás.

Cada um segue seu rumo, cada um precisa ir cuidar da sua vida. Vêm os maridos, as mulheres, os filhos, as viagens de trabalho, o cotidiano, a "discussão sobre a carestia do leite", como me disse uma vez um querido amigo. É bom, normal, saudável.

Só que vez ou outra  dá saudade. Porque, ao contrário do que se diz popularmente, a gente era feliz e sabia. Não que agora não sejamos. Mas de alguma maneira, para sempre, a gente vai se reconhecer e estar ligado por aquela experiência. Por que há algo de mágico naquele momento, que jamais será retomado, e que vez ou outra dá vontade de reviver.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Uma pergunta perturbadora

Fui assistir This must be the place, filme lindo de Paolo Sorrentino com Sean Penn atuando de maneira estupenda. A trilha sonora é incrível, o enredo é um tanto estranho - o que na minha opinião é ótimo - e Sean Penn está em um de seus melhores momentos como ator.

Mas este post não é para falar deste filme, e sim do trailler que assisti antes de a sessão começar. Nem lembro o nome do filme do trailler, só sei que parecia uma mistura de Matrix com Vanilla Sky : um personagem vai a uma clínica que pode implantar memórias em sua mente, em um clima de aventura/ ficção científica, efeitos especiais de monte e, em geral, nada que pudesse chamar minha atenção, a não ser por uma pegunta feita pelo personagem funcionário da clínica ao personagem cliente: "Que memória você quer ter?"

A ideia de implantar uma memória de algo que não aconteceu a alguém na mente, ou no espírito, ou na psique dessa pessoa me pareceu muito perturbadora. E eu acabei me perguntando : que memória eu gostaria de ter?

No trailler do filme, os exemplos são meio heroicos: um atleta ganhando uma medalha, um policial que impede um crime. Eu acho que queria coisas mais simples. Uma coisa que eu queria ter memória é a sensação de fazer um gol. Acho tão incríveis aqueles jogadores que saem enlouquecidos pelo gramado, correndo, abraçando, pulando, só por terem feito um gol... deve ser realmente uma coisa especial.

Outra memória que eu queria ter é a de ter dançado um ballet como Dom Quixote, que eu acho que deve ser muito difícil dançar. Essa memória de poder fazer algo tão complexo aumenta a autoestima, sempre dá uma injeção de ânimo, sempre faz a gente pensar que "se eu fiz aquilo, qualquer outro desafio parece simples".

Eu tenho na minha memória de verdade algumas lembranças de coisas difíceis que superei e que me ajudam a ter essa sensação de "se fiz aquilo, isso é moleza". Mas a ideia de implantar memórias de situações não vividas me surpreendeu, me perturbou e me fez pensar em coisas muito além do que eu já tinha pensado.

E, então, de repente, Sean Penn apareceu na tela do cinema.


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*Atualização em 23/08: o filme em questão é um remake de Total Recall. Obrigada pela informação, Rodrigo Trindade!

domingo, 12 de agosto de 2012

Na balada e na roubada

Eu uso essa frase aí do título, em tom de brincadeira séria, pra sintetizar o que considero uma amizade de verdade. Quando as pessoas casam, o padre pergunta se vai ser "na alegria e na tristeza". E eu acredito que, de modo análogo, amizade tem que ser na balada e na roubada.

Porque, pra mim, não adianta ter amigos que só saem pra se divertir, beber e dançar sem mais profundidade e intimidade nas conversas e sentimentos. Mas também acho que amizades que só se procuram quando há um problema não são muito saudáveis. Acho que tem hora pra rir e pra chorar e creio que amigos de verdade acompanham a gente nos dois momentos.

Isso permite que eles nos acompanhem ainda em outros momentos: de sair pra dançar, de ir em show, de tomar cerveja, café e vinho (cada bebida parece ter uma conversa específica para acompanhar), de ver um filme, de assistir TV, de ouvir música e até de ficar em silêncio, sem que isso soe constrangedor (os amigos que sabem estar juntos em silêncio, eu acho, são os amigos mais caros e raros, aqueles com quem temos amizades mais profundas e fundamentais).

Eu sou muito exigente com minhas amizades. São poucas e boas - eu diria muito boas, com pessoas especiais, com quem posso contar de verdade. Não acredito naquela história de que "a gente pode passar anos sem se ver". Quem eu amo, eu quero perto de mim, pra cuidar, pra acompanhar a vida cotidiana - a ida ao médico, o resultado da prova, o desfecho do problema no trabalho, a febre do filho. Acho que quando a gente sabe dessas coisas quase bobas, prosaicas, da vida do outro, somos capazes de saber de sentimentos profundos, de compartilhar histórias realmente importantes. Gosto de saber e de dar a conhecer essa parte mais superficial, porque acredito que, com o tempo, por ela, venha a parte mais profunda: do abraço apertado que conta segredos sem falar, do choro sem razão, da risada desbragada, dos papos-cabeça sobre filosofia, cinema e literatura, de falar sobre um e outro.

Com isso, as relações ficam expostas. É preciso muita coragem pra se expor assim. Porque quando essa relação é traída, dói muito mais do que doeria se a gente se resguardasse. Mas a recompensa, por outro lado, é gigante: é ter ao lado da gente gente em quem a gente pode confiar, gente que faz a vida da gente melhor, gente que ensina lições lindas de vida.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Livros são objetos civilizatórios

Foi isso que comentei numa foto que uma amiga colocou no Facebook dela. A foto, tirada na França, mostrava uma caixa transparente, contendo livros, com os dizeres: "Dar" e "Receber".

Por isso, pensei que livros são objetos civilizatórios: quem dá um livro e pega outro em troca ( o bookcrossing) raramente tem a má intenção de roubar um livro para si sem dar outro em troca. Sem dúvida, isso mostra a capacidade de viver em sociedade sem subtrair do outro.

Mas há um significado muito mais amplo: os livros têm a capacidade de nos salvar da barbárie, de nos tirar de nosso próprio umbigo para viver outra vida, outra história, noutro mundo. Isso pode nos ajudar a conhecer o mundo, a nos colocarmos no lugar do outro, a tirar nosso preconceito, a sermos menos egoístas e egocêntricos.

Lógico que não é porque alguém lê, ou é culto, que é bom. Nem tampouco quer dizer que quem não lê não pode ser bom. Mas acredito que a cultura nos leva a um patamar de civilização, nos livra da barbárie, sem dúvida.  

E ao contrário do que muita gente diz, não acho que valha ler "até bula de remédio". Livros têm que encantar, hipnotizar, fazer a gente sonhar e viajar. Livros precisam alimentar a alma.

A grande questão é não ter medo de enfrentar. Eu li "Dom Casmurro" com 14 anos. Claro que não entendi nem metade, mas tive a sorte de alguém me explicar antes de começar que aquela era uma história de mistério, de tentar convencer o leitor se a mulher tinha ou não traído o marido. Óbvio que não é isso, só. Afinal, essa teoria apareceu só muito tempo depois do livro ter sido publicado. Mas isso me motivou a enfrentar o livro, pra tomar partido, pra ter minha própria opinião. E depois, muito tempo mais tarde, fui me aprofundando nesse universo. Mas tudo começou aos 14, com a curiosidade de descobrir quem tinha razão: Bentinho ou Capitu.

Então, dizer que tem que começar "de leve", com "literatura fácil", pra mim é bobagem. O que eu acho é que tem que dar ao leitor algo que faça parte do repertório dele, algo que lhe chame a atenção. E os clássicos só o são porque tocam, universalmente, em questões humanas tão profundas, que concernem a todos nós.

Não há menina sonhadora que não se encante com Jane Austin, não há garoto rebelde que não se impressione com Demian. Não há curiosidade que resista a um livro dedicado "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver", se a gente explicar pro leitor que aquele é um autor que escreveu o livro depois de morto.

O problema é dar menos do que o leitor precisa. Todo leitor tem fome e sede de leitura, mas se a gente acostumá-lo a pouco, será subnutrido; não saberá que existe um Banquete à espera, se só conhecer as migalhas do chão (ou as sombras refletidas na parede da Caverna).

Nem todo mundo vai se tornar um leitor apaixonado. Mas acho que é preciso tentar. E, mais: dar a chance de fazê-los provar do melhor.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Bonjour Tristesse

Tem dias em que não importa se faz sol, se eventualmente uma atividade profissional é realmente interessante e recompensadora, se você sente que pode fazer a diferença no mundo. Tem dias em que o mundo é indiferente a você.

Dias em que a porrada é inevitável, quando a rasteira inconsequente derruba, quando a dor se instala na alma. Dias quando era preciso que o telefone tocasse e ele simplesmente emudece. Dias em que se percebe que egoísmo e fraqueza podem ser as armas alheias de quem joga, nem sempre limpo.

Dias em que Tânatus toma conta de tudo e o nó na garganta é maior que a explosão do choro.

Dias de ver a dor de quem se ama estampada na alma e no olhar, dias que não passam de noites em claro, dias de ressaca sem porre.

sábado, 28 de julho de 2012

London 2012

Começaram os Jogos Olímpicos de Londres. É a quarta vez que isso acontece, confirmando o que disse o poeta Samuel Johnson: "quem se cansa de Londres, se cansa da vida". Nem as Olimpíadas cansam da capital inglesa.

Este ano faz 40 anos do Massacre de Munique. E parece que o COI proibiu alusões a isso na celebração de abertura. Penso que isso deveria ser lembrado, para que todos saibam o quanto a guerra é dissonante do esporte.

Achei que visualmente a abertura dos Jogos de Pequim foi melhor, mas o lado humano desta festa londrina foi mais bonito e emocionante. Não tem jeito, grande parte do que é o Ocidente se deve ao que a Inglaterra inventou, especialmente desde a Rainha Vitória.

Um dos momentos mais bonitos de ontem - acho até que vai ser "a" imagem da Olimpíada - foi a encenação dos trabalhadores forjando em ferro os anéis olímpicos, aludindo à revolução industrial.

Apesar do dispensável (e até constrangedor) momento "Carruagens de fogo" com Rowan Atkinson, e de a Rainha Elizabeth II ter sido flagrada cutucando a cutícula quando a delegação britânica entrou no estádio - que péssimo! - a festa teve outros momentos lindos. A celebração musical foi bem empolgante: Bowie, Beatles, Stones, Prodigy, Pistols... sweet dreams are made of this.


A ideia da pira olímpica, da qual cada delegação poderá levar um pedaço pra casa, também me deixou boquiaberta. E o final, apesar de óbvio, também foi bacana: todo mundo no "na-na-na-nanana" regido por Sir Paul McCartney. 


Quando as delegações entram, eu sempre fico pensando onde ficam e o que tem em cada um daqueles países que desconheço: qual a moeda corrente de Vanuatu? Quem é o astro da música da Suazilândia? Que tipo de literatura se faz em São Cristóvão e Nevis?


Mistérios que talvez um dia eu desvende por aqui...

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A foto aí do lado

A foto do perfil aí ao lado foi feita pelo Senise, amigo querido de longa data que me ensinou também a gostar de tecnologia (ou pelo menos, não temê-la).

Datas

Ontem foi Dia do Escritor e a Gabi, minha irmã, ligou pra dizer parabéns pra mim e pro Darcio, com quem sou casada e que está escrevendo um livro incrível sobre futebol, além de estar sempre no http://www.3nacopa.com.br/

Acho que a ligação dela foi mais um impulso pra este blog começar...

Hoje é Dia dos Avós e eu amo a minha. E adoro a palavra "avós", uma das poucas cujo plural é feminino. Porque a docilidade e a sensibilidade dos avós é mesmo mais yin que yang.

Post um

Procrastinei não sei quanto tempo pra começar um blog. Já escrevo profissionalmente, para quê inventar mais uma moda? Só pra ter que escrever mais? Quem iria se interessar pelo que eu escrevo, minhas opiniões, meus pensamentos, minhas ideias?

O que eu iria escrever diariamente? Aprendi que diários eram pessoais, íntimos. Pra quê expor essas coisas? (e, aliás, que coisas? Será que eu dou conta de escrever coisas novas todo dia? Veremos...)

Mas daí as coisas foram mudando. Eu fui mudando. Minha vida começou a voltar a ter espaço pra criatividade, recomecei a ter vontade de escrever mais que textos jornalísticos, reportagens, entrevistas. Comecei a querer me pautar.

E nasceu essa cotidianaventura. Assim mesmo, em caixa baixa, sem espaço. Pra falar das coisas que não cabem no meu trabalho, pra anotar minhas opiniões, minhas venturas e aventuras cotidianas, vividas na minha vida comum e rotineira ou na fantasia de livros lidos, de sonhos desejados, de projetos a realizar.

Agora, começou. Renata, renasço aqui, mais uma vez, não sei muito bem para quê nem para quem.

Vamos ver o o que será.