terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Renata caiu do céu!

Nem me lembro quando a vontade surgiu. Eu devia ter uns 19 anos. Talvez tenha sido por causa de um projeto, ainda no primeiro ano de faculdade, que me fez descobrir isso. Também não sei dizer por que demorei tanto pra realizar esse desejo. Mas a verdade é que, quando a gente cultiva por muito tempo um desejo, quando ele finalmente se realiza, parece ter um gosto ainda mais especial.

Até que uma noite dessas, jantando num mexicano com amigos fraternos muito queridos, veio a ideia, despretensiosa : "vai ter um feriado em novembro, vamos?". "Vamos!", respondi, sem pestanejar. E ficou assim. Sobreveio um tempo de trabalho intenso, de cansaço intenso. E entre emails enviados para um endereço que eu não uso e correria para ir ao banco depositar o valor da reserva, acabou que deu tudo certo.  E a gente pegou a estrada, num fim de tarde de sexta feira de céu rosado.

No dia seguinte, cedo, tomamos café da manhã e partimos para a aventura. O céu estava lindo, límpido. Ventava. Cadastro feito, chegava a hora. A ansiedade me acompanhava já há uma semana e o medo já tinha me feito pensar em desistir. Mas eu já estava lá - e não desistiria. O astral estava incrível: todo mundo de bom humor, curtindo muito estar ali, sorriso no rosto. E um frio gelado no estômago. "No dia em que a gente deixar de sentir medo, a gente para de saltar, né, Babu?", pergunta Renan com a câmera em punho.

"O trator é a pior parte", avisaram. Com ele, fomos até a pista de pouso. Dentro do avião, todos sentados no chão, entre as pernas uns dos outros. O primeiro a sair era profissional, havia parado por um problema no fêmur, estava voltando naquele exato dia. E chegou a minha vez. A porta se abriu. Cabeça para cima, aqueles segundos pareceram horas. Até que Renan disse "Hey, ho". E nós fomos. 45 segundos a 10m/s2. Queda livre. Não há tempo de pensar em nada, ou em quase nada : "Onde estão minhas pernas? E meus braços?" Eles voavam, desgovernados. O vento no rosto, forte, seco, frio. Quase caótico. Mas antes mesmo de terminar, eu já estava entendendo tudo e com a sensação de querer mais do que só aqueles segundinhos.

Logo, o paraquedas abriu. O tranco me fez subir um pouco, mas logo o mundo parou. O tempo parou, o espaço parou, o silêncio se instalou.  E eu já não caia. Eu apenas olhava, maravilhada, o mundo. "Étonnant". A Terra é redonda, dá pra ver no horizonte..."Entende agora porque os passarinhos cantam?", perguntou o Renan. Eu entendi.

Depois de uma curva para a direita, uma rápida aulinha de Geografia: ali é Porto Feliz, mais adiante é Iperó. E a sensação de estar ali, parada no ar, ainda que racionalmente eu soubesse estar caindo, é uma das coisas mais incríveis e indescritíveis que já me aconteceu. "Daqui do céu dá pra ver tudo": não só com os olhos, mas para além deles. Não é uma revelação, é apenas uma sensação de ser tão pequena, e de tudo ser tão lindo e imenso, que prescinde de palavras.

E mesmo que eu sentisse que estava imóvel, eu não estava. Logo, os sete ou oito minutos acabaram. E eu estava de novo em terra firme, com o corpo todo relaxado, com a mente completamente despreocupada e limpa, tendo aprendido que estar no ar é algo que eu quero fazer ainda muitas e muitas vezes.


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