Até que uma noite dessas, jantando num mexicano com amigos fraternos muito queridos, veio a ideia, despretensiosa : "vai ter um feriado em novembro, vamos?". "Vamos!", respondi, sem pestanejar. E ficou assim. Sobreveio um tempo de trabalho intenso, de cansaço intenso. E entre emails enviados para um endereço que eu não uso e correria para ir ao banco depositar o valor da reserva, acabou que deu tudo certo. E a gente pegou a estrada, num fim de tarde de sexta feira de céu rosado.
No dia seguinte, cedo, tomamos café da manhã e partimos para a aventura. O céu estava lindo, límpido. Ventava. Cadastro feito, chegava a hora. A ansiedade me acompanhava já há uma semana e o medo já tinha me feito pensar em desistir. Mas eu já estava lá - e não desistiria. O astral estava incrível: todo mundo de bom humor, curtindo muito estar ali, sorriso no rosto. E um frio gelado no estômago. "No dia em que a gente deixar de sentir medo, a gente para de saltar, né, Babu?", pergunta Renan com a câmera em punho.
"O trator é a pior parte", avisaram. Com ele, fomos até a pista de pouso. Dentro do avião, todos sentados no chão, entre as pernas uns dos outros. O primeiro a sair era profissional, havia parado por um problema no fêmur, estava voltando naquele exato dia. E chegou a minha vez. A porta se abriu. Cabeça para cima, aqueles segundos pareceram horas. Até que Renan disse "Hey, ho". E nós fomos. 45 segundos a 10m/s2. Queda livre. Não há tempo de pensar em nada, ou em quase nada : "Onde estão minhas pernas? E meus braços?" Eles voavam, desgovernados. O vento no rosto, forte, seco, frio. Quase caótico. Mas antes mesmo de terminar, eu já estava entendendo tudo e com a sensação de querer mais do que só aqueles segundinhos.
Logo, o paraquedas abriu. O tranco me fez subir um pouco, mas logo o mundo parou. O tempo parou, o espaço parou, o silêncio se instalou. E eu já não caia. Eu apenas olhava, maravilhada, o mundo. "Étonnant". A Terra é redonda, dá pra ver no horizonte..."Entende agora porque os passarinhos cantam?", perguntou o Renan. Eu entendi.
Depois de uma curva para a direita, uma rápida aulinha de Geografia: ali é Porto Feliz, mais adiante é Iperó. E a sensação de estar ali, parada no ar, ainda que racionalmente eu soubesse estar caindo, é uma das coisas mais incríveis e indescritíveis que já me aconteceu. "Daqui do céu dá pra ver tudo": não só com os olhos, mas para além deles. Não é uma revelação, é apenas uma sensação de ser tão pequena, e de tudo ser tão lindo e imenso, que prescinde de palavras.
E mesmo que eu sentisse que estava imóvel, eu não estava. Logo, os sete ou oito minutos acabaram. E eu estava de novo em terra firme, com o corpo todo relaxado, com a mente completamente despreocupada e limpa, tendo aprendido que estar no ar é algo que eu quero fazer ainda muitas e muitas vezes.
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