sábado, 27 de outubro de 2012

Uma questão de tradução

Uma das palavras mais lindas e perturbadoras do francês, para mim, é étonner. A expressão "Je suis étonnée" tem algo de inapreensível, de fugidio, de mágico. Tem um significado para além do que o dicionário consegue dizer: ficar estupefato, perplexo, maravilhado.

Lembro-me perfeitamente de quando descobri o que isso significava e do quanto isso me perturbou, justamente pelo caráter inapreensível dessa significação. Acho que é algo que não pode ser traduzido, como em português é o caso de "luar" ou "saudade". Na aula de francês, o professor pediu que eu desse um exemplo, que foi "En rêvant, je m'étonne" (Ao sonhar, eu me maravilho). E fiquei por muito tempo pensando o quanto essa tradução não era suficiente para traduzir de fato a alma dessa palavra, que talvez seja, para a mim, a mais linda dessa língua que é, em si, linda.

"Étonner" me assombra, me instiga. E eu persigo essa tentativa de captá-la inteira, profundamente. E sei que isso é impossível, porque esse sentimento é da ordem do inominável, do indizível, porque não há palavras que preencham esse significado. Aqui, acho, o significante fala mais.

Entretanto, tenho uma sensação: cada vez que "je m'étonne", eu tenho uma epifania.

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