"Quem quer passar além
do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu"
É assim que acaba o famoso poema "Mar Português", de
Fernando Pessoa, que remete às conquistas marítimas do século XV. E foi nele
que pensei quando ontem, no noticiário, vi, maravilhada, que a nave Voyager
saiu do sistema solar.
Obviamente pensei também em "Space Oddity" (que tem esta versão alternativa, gravada in loco). E pensei em quanto o mundo é vasto e em quanto não temos a noção de nosso próprio tamanho. Sair do
Sistema Solar! É um feito muito maior do que atravessar o Atlântico, ou que
pisar na Lua. Ou talvez seja similar, porque eu não vivi no século XV nem em 1969
pra entender a grandeza dessas coisas que foram feitas naquele tempo durante aquele tempo.
Mais incrível é pensar que a Voyager conseguiu esse feito há mais
de um ano, mas só agora soube-se disso. Parece que o sinal de rádio demora 17
horas para viajar da Voyager à Terra.
É quase inacreditável saber que chegamos tão longe, mesmo com uma
mentalidade tão estreita que ainda quer guerra na Síria, que sustenta corrupção
e fome, que consome da Terra mais do que ela permite produzir.
Já não cabemos no mundo de Pessoa. As estrelas diferentes de Bowie
já não nos bastam. Viajamos rumo ao desconhecido.
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