sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Livros são objetos civilizatórios

Foi isso que comentei numa foto que uma amiga colocou no Facebook dela. A foto, tirada na França, mostrava uma caixa transparente, contendo livros, com os dizeres: "Dar" e "Receber".

Por isso, pensei que livros são objetos civilizatórios: quem dá um livro e pega outro em troca ( o bookcrossing) raramente tem a má intenção de roubar um livro para si sem dar outro em troca. Sem dúvida, isso mostra a capacidade de viver em sociedade sem subtrair do outro.

Mas há um significado muito mais amplo: os livros têm a capacidade de nos salvar da barbárie, de nos tirar de nosso próprio umbigo para viver outra vida, outra história, noutro mundo. Isso pode nos ajudar a conhecer o mundo, a nos colocarmos no lugar do outro, a tirar nosso preconceito, a sermos menos egoístas e egocêntricos.

Lógico que não é porque alguém lê, ou é culto, que é bom. Nem tampouco quer dizer que quem não lê não pode ser bom. Mas acredito que a cultura nos leva a um patamar de civilização, nos livra da barbárie, sem dúvida.  

E ao contrário do que muita gente diz, não acho que valha ler "até bula de remédio". Livros têm que encantar, hipnotizar, fazer a gente sonhar e viajar. Livros precisam alimentar a alma.

A grande questão é não ter medo de enfrentar. Eu li "Dom Casmurro" com 14 anos. Claro que não entendi nem metade, mas tive a sorte de alguém me explicar antes de começar que aquela era uma história de mistério, de tentar convencer o leitor se a mulher tinha ou não traído o marido. Óbvio que não é isso, só. Afinal, essa teoria apareceu só muito tempo depois do livro ter sido publicado. Mas isso me motivou a enfrentar o livro, pra tomar partido, pra ter minha própria opinião. E depois, muito tempo mais tarde, fui me aprofundando nesse universo. Mas tudo começou aos 14, com a curiosidade de descobrir quem tinha razão: Bentinho ou Capitu.

Então, dizer que tem que começar "de leve", com "literatura fácil", pra mim é bobagem. O que eu acho é que tem que dar ao leitor algo que faça parte do repertório dele, algo que lhe chame a atenção. E os clássicos só o são porque tocam, universalmente, em questões humanas tão profundas, que concernem a todos nós.

Não há menina sonhadora que não se encante com Jane Austin, não há garoto rebelde que não se impressione com Demian. Não há curiosidade que resista a um livro dedicado "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver", se a gente explicar pro leitor que aquele é um autor que escreveu o livro depois de morto.

O problema é dar menos do que o leitor precisa. Todo leitor tem fome e sede de leitura, mas se a gente acostumá-lo a pouco, será subnutrido; não saberá que existe um Banquete à espera, se só conhecer as migalhas do chão (ou as sombras refletidas na parede da Caverna).

Nem todo mundo vai se tornar um leitor apaixonado. Mas acho que é preciso tentar. E, mais: dar a chance de fazê-los provar do melhor.

3 comentários:

  1. Querida, ótimo texto! E muito obrigada, me senti homenageada! (rsrs)
    Bjs, Mônica

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    1. Querida, pode se sentir mesmo! Sua foto foi minha inspiração (aliás, posso postar aqui, dando o crédito?) Só não tinha colocado seu nome pra manter a privacidade da fonte rsrs. Beijo!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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