Era fim de tarde de uma sexta feira qualquer. Eu estava mandando o último email da semana quando ouvi um estrondo na rua, seguido de um rápido clarão. Depois, tudo se apagou: meu computador, a lâmpada do escritório, o som do rádio. Um transformador queimara, a luz acabara.
Ainda estava escurecendo e no lusco-fusco eu ainda distinguia formas, com a ajuda das janelas abertas e da lua cheia que se insinuava. Mas que fazer numa noite de sexta feira às escuras? Sem rádio de pilha, temendo descarregar a bateria do celular, pus-me a ler. Era isso que fazia, criança, quando a luz acabava em casa.
Procurei uma vela, acendi-a com um fósforo. Coloque-a num pires, sobre a mesa de jantar. E saí em busca de um livro. "A Descoberta do Mundo", livro muitas vezes já lido e relido, mas que nunca se esgota: muito apropriado para redescobrir a escuridão e uma situação pela qual eu não passava há anos.
Abri numa página ao acaso: Banhos de mar. Sob a luz quente e hesitante da vela, comecei a ler. "Atravessar a cidade escura me dava algo que jamais tive de novo. No bonde mesmo o tempo começava a clarear e uma luz trêmula de sol escondido nos banhava e banhava o mundo (...). E quando eu me lembrava de que no dia seguinte o mar se repetiria em mim, eu ficava séria de tanta ventura e aventura. (...) A quem devo pedir que na minha vida se repita a felicidade? Como sentir com a frescura da inocência o sol vermelho se levantar?"
E, então, Clarice iluminou minha escuridão.
Re, aqui é Paula, sua ex-aluna do cursinho. Agora sei que vc tem blog, gostei do seu texto, saudade das suas reflexões...
ResponderExcluirPaulinha! Prazer Tê-la aqui no meu espaço de ideias... que bom que gostou! Seja bem vinda sempre!
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