Eu preciso confessar: estou viciada em Avenida Brasil. Sim,
estudei Machado de Assis, sim, adoro Clarice Lispector, Pessoa, Poe e Borges, assisto
Tarantino, Bergman, Kubrick e outras coisas assim. Mas eu também adoro
televisão. Especialmente novela. Tanto que um dos meus amigos mais queridos eu
conheci por ter começado a conversar com ele sobre uma obscura novela dos 90: Araponga.
Meu TCC foi sobre uma novela – Roque Santeiro –, algumas lembranças de fatos eu
relaciono com novela: “Nossa, isso aconteceu na época de Bambolê!”.
Não sei porque, mas tenho lembranças de novelas desde que
sou muito pequena: Pão, pão, beijo, beijo; Livre para voar; Elas por elas, Um
sonho a mais, Transas e caretas, Vereda tropical, Paraíso, Sinhá Moça; Champagne.
Lógico que não lembro detalhes, mas essas coisas ocupam certo espaço na minha
memória.
Muito cedo também, eu parei de seguir novela. Vamp foi a
primeira que eu desisti de ver – porque aquela versão de “Sympathy for the
devil” não me convenceu – e aí só voltei a acompanhar algumas tramas
televisivas nos anos 2000. Mas são só algumas, não são todas. Até porque,
quando eu vicio numa novela, eu começo a assistir todos os capítulos,
compulsivamente. E isso era muito difícil antes de existir internet.
E é isso que está acontecendo comigo em Avenida Brasil. Não
comecei a ver desde o primeiro capítulo, mas no segundo mês, eu já tinha
viciado. Porque o ritmo é frenético (diminuiu de uns tempos para cá, mas antes,
era!), porque a vilã é muito má (Adriana Esteves me surpreendeu), porque a
mocinha não é tão boazinha assim e porque tem muita comédia com referências
interessantes (Betty Faria arrasando como Pilar; o Nilo de José de Abreu cantando “Nem vem que não tem”; o Adauto de Juliano Cazarré dizendo que o tiramissú
que se come na mansão é feito com queijo “Al Capone”).
Na verdade, eu nem vejo “Avenida Brasil”. Eu vejo a “Carminha”.
Assim como eu parava para assistir a “Flora”, de “A Favorita”. Carminha é a
Flora 2.0, apesar de não ser tão irônica e cínica (Carminha me lembra um pouco
um desenho animado). Além do quê, tem
uma coisa divertida nessa novela: a Nina indicando livros para Tufão, como se o
alertasse sobre a trama. Já rolou de tudo: “O Alienista”, “Dom Casmurro”, “Madame
Bovary”, “A Metamorfose”, “Memórias Póstumas” e até um improvável “A
interpretação dos sonhos”. Tudo pro Tufão entender que está sendo passado pra
trás. Nada adiantou, por enquanto – o capitulo de ontem começa a me desmentir. Mas
pode ser que esteja certa a “profecia” de José Simão: “Tufão só vai descobrir
que é corno no Vale a pena ver de novo”.
Enquanto isso, eu não desgrudo da TV. #prontofalei.
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